quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Êita, pau!

Quando os jovens Paulo e Márcia voltaram de sua lua de mel, foram morar num bairro da periferia de uma grande cidade. A casa, que fora presente do pai do noivo, se destacava pela beleza e tamanho entre as casas simples da vizinhança. Era uma casa nova e confortável, combinando com tudo que se encontrava dentro dela. Possuía vários compartimentos. Salas espaçosas e quatro quartos grandes, embora apenas duas pessoas fossem morar ali. A cozinha era ampla, talvez o maior compartimento da casa, e ficava na parte de trás do edifício. Daquele lugar dava para se ver a vila de casinhas, todas muito simples, que ficava por trás da rua onde o jovem casal foi morar.
Márcia servia o café da manhã ao marido, logo no segundo dia no novo lar, quando se deteve por alguns segundos e, parada, observava algo pela janela. O marido percebeu a distração da esposa e perguntou-lhe o que olhava.
- Vejo que há uma mulher estendendo alguns lençóis no varal – falou apontando a cena com a faca cheia de manteiga que iria no pão. - Mas como são sujos aqueles lençóis! Talvez ela não tenha sabão para lavá-los. Eu poderia dar algum pedaço para ela.
Paulo se pôs de pé, sem sair do lugar, e espiou lá fora. Viu que uma mulher estendia lençóis num varal, mas ficou calado.
Passados três dias a cena se repetiu. Márcia colocava a mesa para o café do marido, quando parou de repente e observou novamente a vizinha de trás, que estendia os lençóis como da vez anterior.
- Talvez ela não saiba lavar lençóis – falou sem esperar nenhum comentário do esposo. - Eu bem que poderia ensinar-lhe. Veja só que lençóis sujos!
Como Paulo saía religiosamente na mesma hora para o trabalho, o horário de acordar dos jovens era sempre o mesmo. E assim, a cada três dias, Paulo ouvia da esposa os mesmos comentários sobre a vizinha, que também era muito pontual na tarefa de lavar seus lençóis.
Certa vez, passadas algumas dezenas de dias, Paulo já estava sentado quando Márcia parou e olhou para fora. Eufórica chamou pela atenção do marido.
- Veja, Paulo. Que lençóis mais limpos! Aposto como uma outra vizinha deu-lhe um pedaço de sabão - falou pondo o leite na xícara do esposo. - Ou então, ensinou-lhe como se lava lençóis. Porque eu não fui!
Paulo ajeitou-se na cadeira, pôs os cotovelos sobre a mesa. Queixo apoiado nas duas mãos abertas para que os dedos abraçassem seu pescoço, falou para a jovem esposa:
- Não, minha querida. É que hoje levantei mais cedo e lavei as vidraças de nossas janelas.

Escrito em abril de 2003. Texto desenvolvido a partir de um e-mail com ilustrações, enviado por um amigo, no qual alertava contra vermos os defeitos dos outros através das nossas falhas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário