quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Rudes Brasões

Do livro Timbre, que Virgílio Maia publicou no ano de 2002, pela Editora Giordano, de São Paulo, tiro o poema Rudes Brasões:

Meu avô imprimiu no couro vivo
de um boi brabo seu rústico brasão,
inflamada divisa do sertão,
que passou ao meu pai, qual aos meus tios.
A caatinga o forjou e deu brilho;
as veredas do tempo, as diferenças:
ao de um neto, um puxete e essa pequena
flor na ponta que de outros o separa
quando, aos berros do gado, se declaram
ferro e fogo das marcas avoengas.

Pois das eras salvou-se uma relíquia:
um chocalho amarelo e meio tosco,
que por anos batia no pescoço
de uma vaca de nome Colombina.
Hoje dobra, dorida, às tão tranqüilas
solidões da fazenda em que tocou.
No metal do seu corpo se engastou,
posta ali a punção, armorial,
uma marca indelével, o ancestral
e incendido brasão do meu avô.

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