sábado, 28 de março de 2009

Fortes?


Vi robustas árvores envergadas pelo vento
Lutando contra a morte, apegadas à terra
Soltando suas folhas sem, talvez, contentamento
Deixando escapar, assim, a beleza que encerra.
Vi o vento que soprava com intrepidez
Sem poder ser detido em suas livres veredas
Atentando contra uma árvore pra tirá-la de vez,
Do solo, em silvos longos entre as alamedas.
Um homem que passava segurou seu chapéu
Olhou para a árvore e se compadeceu
Pois compreendeu que debaixo do céu
Só não se curva ao mais forte aquele que morreu.
Mas até o vento que ninguém sabe de onde vem
Embora forte e ágil sem ter que dar satisfação
Chega uma hora que se cansa também
E deixa tudo que levantou cair de novo ao chão.


Jesus de Miúdo
5/10/2005

sexta-feira, 27 de março de 2009

Descobertas

Tudo quanto eu sei
É que não preciso mover mundos
Pra saber que nada sei.
Tudo quanto eu tenho
São pensamentos fecundos
Pra entender que nada tenho.
Tudo quanto eu sou
Não dura míseros segundos
Pra perceber que nada sou.
O que sou?
O que tenho?
O que sei?
Nada!
Jesus de Miúdo
Janeiro/2007

Ciranda


Viro ninguém.
Perto de ti
Eu sou alguém
Longe de ti
Não me convêm
Sobre ti
O riso vem
Sob ti
Eu passo bem
Falando a ti
Digo amém
Ouvindo a ti.


Jesus de Miúdo
Setembro/2007

domingo, 22 de março de 2009

Morrer em ti


Revestido de receios,
Vi meu mar nos seios teus.
E todos os meus anseios,
Todos os desejos meus,
Num mergulho se afogaram.

Vi meu céu em tua boca
Numa vontade louca
Desejei morrer em ti.


Morri.

Jesus de Miúdo.

Maria da Penha nele, e uma surra nela!



A coisa foi a seguinte: uma amiga minha, a quem só conheço virtualmente pela Internet, levou umas porradas do homem com quem vive. Aí, ligou para uma amiga e pediu socorro. A amiga lhe socorreu, mas botou a boca no mundo. Quando o cabra ia sofrer as penas da lei, a espancada (teve até hemorragia interna) desmentiu tudo, exaltou as qualidades do marido, disse que tudo era inveja da amiga, pois tinha sofrido um tombo no banheiro. Aí, eu não me aguentei e mandei por e-mail o cordel de presente pra ela:


Aqui na minha terrinha
Também tem um tipo ruim
De mulher, que faz assim:
Apanha e fica quietinha.
Mas se faz de coitadinha
Diz que foi escorregão
Que sofreu em seu sabão
Quando saía apressada
Do banheiro, ensaboada,
Por não prestar atenção.

Agora é essa a questão:
Apanha ou é desatenta?
Ela diz que o povo inventa
Qu’ela leva moxicão
Mas acho que é a mão
Do marido cachaceiro
Profissional uisqueiro,
Que lhe faz só de pamonha
E ela, muito sem vergonha,
Diz: - É bom, meu companheiro.

O cabra é um loroteiro
Metido a arroxado
Mas quando ele é provado
Por um homem verdadeiro
Falam que corre primeiro
Pra descontar na inocente
Que embora inteligente
Não vê qu’ele é um imbecil
E toda quebrada e servil,
Diz: - O meu homem é decente.

Quando a coisa fica quente
Ela liga pr’uma amiga
É sempre a mesma cantiga
-
Eu sofri um acidente.
Mas por inveja, não invente
De pensar que apanhei.
Eu apenas escorreguei
Quando saía do banheiro,
Caí com meu corpo inteiro
E a cabeça quebrei
.
Aí, o marido dela me respondeu dizendo que eu era um louco porque não sabia com quem estava mexendo, que ele tem muito dinheiro, era de família rica e tradicional de certa região do país, que ia me processar e mais uma ruma de bosta. Mandei-lhe, então o seguinte cordel:
Na minha terra querida
Temos de tudo um pouco
Podem até me chamar: “louco”
Mas não tenho outra saída.
Aqui a gente duvida
De metido a valentão
Mas que só levanta a mão
Pra bater no feminino
Não passa de um cretino
Sem alma e sem coração.

De que adianta o sujeito
Ter “nome” e tradição
E faltar-lhe a educação,
Ser sem caráter e respeito?
Falo logo em meu conceito:
O cabra não é do bem.”
E não importa quant'ele tem
Pode ser um mar de dinheiro
Pode até ser um “Carneiro”,
Mas pra mim, não é ninguém.

Não vejo porque senão
Nessa linhas que hoje leio
Nem me traz um aperreio
Entrar em tal discussão
Eu falo de coração
E não arredo o pé
Aqui quem bate em mulher
Não é homem, é um nojento !
Não é sequer um jumento
Pois não rincha, só faz béééééééééééééé !

sábado, 21 de março de 2009

Se foi Maria...

Maria, cadê você, cadê Maria?
A vi subindo a ladeira, outro dia,
Puxando um menino, pegada na mão.

Maria, cadê você, cadê Maria?
A vi sumindo faceira, cheia de alegria
Puxando um gringo, pegada na mão.

Maria, cadê você, cadê Maria?
A vi partindo aventureira, sem euforia,
Puxando a saudade pr'o meu coração.


Se foi Maria...

Escrito para ninguém, dentro de um ônibus em movimento, numa manhã bucolicamente cinza de segunda-feira.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Misturas

Sou parte de ti? Não sei.
Sou metade de mim? Não sei.
Tudo que sei é que sou pingo
Juntando-me ao teu suor
Descendo por tua pele nua
Lambendo tua carne crua
Para cair no solo em que tu pisas.

Sou de ti esquecido e nunca lembrado
Mas roubo de ti o sal pra terra
Onde morro e por quem sou tragado
E na qual minha paixão encerra.

Escrito para ninguém, numa tarde quente de outubro qualquer.

domingo, 1 de março de 2009

O que é que me falta fazer mais...

Se até hoje o que eu fiz ninguém faz?
Quem conhece um pouco de Cantoria de Viola sabe que esse é um tema muito pedido nos festivais, ou simples apresentações. Nele o poeta viaja, se faz forte, criativo, inventor ... Torna-se um deus na criação do repente.
É um mote que instiga o repentista poeta a falar de sua vasta cultura, ou de usá-la na construção de cada verso.
No embalo do mote, eu criei:

Eu já fui aboiador, já fui vaqueiro,
Derrubando boi na faixa pelo rabo
Eu também já amansei burro brabo
Já cantei pra donzela, fui seresteiro.
Trabalhei de arquiteto, de engenheiro
Projetei carro pra mover-se a gás
No repente ganhei uns mil festivais
Hoje em dia sou palhaço da alegria
Perguntando aqui no Circo da Poesia:
O que é que me falta fazer mais???


Eu projetei as pirâmides do Egito
A água doce do Rio Nilo? Eu destilei!
Fui Faraó da nação que tanto amei
Ouvindo o povo me chamando de bendito.
Reuni minha história num escrito
E vi Cleópatra em vestidos sensuais
Conquistando-me com trejeitos divinais
Pra me amar como a outro não amou
Mas um dia ela assim me perguntou:
E o que é que lhe falta fazer mais?


Dei uns toques a um tal de Avicena
Para escrever sobre a ciência Medicina
Descobri a molécula da morfina
E disse a Seturne: Isso aqui não envenena.
Fiz Shakespeare escrever peça obscena.
Falei pra Ghandi: vai promover a sua paz.
Johanes Kepler era apenas um rapaz
Quando lhe dei as leis da Geometria.
Agora pergunto, e por favor você não ria:
O que é que me falta fazer mais?


E O QUE É QUE ME FALTA FAZER MAIS
SE O QUE FIZ ATÉ HOJE NINGUÉM FAZ?