segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Rio e mar. Mar e rio...

Sei que ando meio relapso com esse espaço, mas prometo que vou atualizá-lo com maior frequência. Segue algo já publicado no www.acaridomeuamor.nafoto.net

(Escrito no sábado 24 de outubro, à noite, em homenagem à Professora Ana Lúcia Sampaio)

Hoje à tarde tomei rumos há muito não procurados. Confesso que saí de casa meio sem ermo, andando para ficar só. Desci pela rua principal retribuindo o carinho das pessoas que me cumprimentavam com palavras rápidas ou, simplesmente, com gestos em acenos de cabeça ou de mãos. Alguns polegares para cima, outras vezes dois dedos em foram de “V”.
Quando alguém tentou me acompanhar e puxar conversa, não fui grosso. Mas procurei ir por onde ele não ia, seguindo meu desejado passeio solitário, sentindo o calor de trinta e seis graus, o sol queimando meu rosto, o vento quente soprando e assanhando meus cabelos... literalmente sem lenço e sem documento algum.
De repente estava sobre a ponte que separa nossa pequena cidade, Norte numa cabeceira, Sul na outra, Rio Acauã passando por baixo dos meus pés firmes sobre o concreto da construção há vinte e seis anos inaugurada.
Desci pela cabeceira sul e me vi sobre a areia fina da margem do dito rio. Tirei as sandálias, arregacei as pernas da calça jean’s, desbotada pelos anos, tecido macio, fino por tantas lavagens sofridas, pondo-as um pouco abaixo dos joelhos. Caminhei por aquele ponto onde a água beija de leve a areia, mal cobrindo meu pé direito, mais na areia que na água, entretanto engolindo meu pé esquerdo sempre que esse tocava o chão. Caminhei ao contrário das águas.
Fui sentar-me numa pedra, à sombra de uma Ingazeira, a mesma pedra de onde, quando ainda um menino teimoso e desobediente, às vezes, não considerando as advertências maternas, dela me atirava num mergulho para sair lá embaixo, correnteza me levando como um peixe que não tem piracema para motivá-lo em lutar contra o fluxo da enchente.
Sentado ali me lembrei de tantas coisas passadas... e os anos foram sendo exibidos na tela das minhas lembranças, retornando cenas em memórias que se eu pudesse reviveria todos os dias. De repente, não tinha mais do que me lembrar. Cheguei ao hoje.
Olhei rio acima, até onde a minha vista podia alcançar. Rio torto, pedras em seu caminho, contornadas sem nenhuma força. Tantas pedras... vencidas pelo rio tão maravilhosamente caudaloso.
Lá longe a serra ainda se veste de mata verde pelas chuvas que esse ano foram benfazejas. Percebi que tudo ainda está verde. Tudo verde... que verde! Que serra! Grande, majestosa! Nem por isso venceu a teimosia das águas e, em certo ponto, se fez garganta para que o rio pudesse passar, se fez espécie de cânion para a passagem das águas.
“Rio torto”, pensei. Como são todos os rios.
Deitei-me na pedra, fechei meus olhos. Lá às minhas costas o sol começava a baixar, perdendo a força, o brilho se tornando avermelhado, já não refletido em nenhum ponto nas águas do rio. Não daquele lugar em que eu estava.
Confesso que certas glândulas me turvariam os olhos, se abertos estivessem, quando senti rolarem duas aguinhas impertinentes e que logo viraram quatro. Se mais tempo ali permanecesse, tenho certeza, o rio aumentaria um pouquinho em seu volume.
Me pus de pé sobre a pedra. Tirei minha camiseta, joguei-a de qualquer jeito sobre as sandálias, mirei as águas do velho Acauã, juntei meus pés, tomei fôlego e pulei.
Após o mergulho, me deixei levar um pouco pela correnteza para, só depois, procurar a margem de terra firme. Saí alguns metros à frente. Por um momento me vi menino novamente, não fosse pela calça jean’s substituindo o calçãozinho de tecido barato que eu usava quando mais novo.
Novamente sobre a pedra, percebi a água que escorria de mim, lambia a rocha e se juntava ás outras águas rio abaixo, levando por certo algum pingo salgado que rolara da minha face.
“Esse rio vai dar no mar”, pensei. Como vão todos os rios. E aí, lá no mar transformar-se-á em nuvem novamente, nuvem em chuva, chuva em água, água na terra, da terra para o rio e do rio para o mar! Rio e mar. Mar humilde, vivendo abaixo do rio apenas para recebê-lo. Mar. Rio. Rio e mar... um ciclo perfeito e tudo tem o seu recomeço. A ida, a volta, para a ida, à volta, a ida...
Confesso que eu agora creio em recomeço. Há, sim, muitos rios e vários mares, alguns oceanos; todos feitos rios, todos feitos mares. Porém, hoje descobri que é possível recomeçar.
Sempre é!
E a citação que hoje me inspira é: “Todo caminho tem... tem ida e volta”.

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