segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Viagem ao nada

Eu viajo sem saber direito para aonde vou
Me afasto de mim e de meus sentimentos
Quero a solidão, estática sem impedimentos
Para entender, por fim, quem realmente sou.
Ultrapasso as barreiras de onde eu estou
Indo além de um lugar que eu não sei ao certo
Se é paraíso, inferno, jardim de flores, ou deserto
Augurando descobrir, sozinho, o que me fará feliz
E o meu espírito, tadinho, chega e me diz:
- Se afaste de tudo, mas fique aqui por perto.
Eu viajo sem saber direito, mas quero o céu aberto
Com estrelas que iluminem o ir a esse meu exílio
Servindo de guias nessa busca por novo domicílio
Onde a minha alma descansará com amor, decerto
E o meu eu seja por fim, por mim, assim, descoberto
Quero um lugar onde eu não tenha mais dificuldade
De expressar-me, ser compreendido, em minha castidade
Quero gritar coisas que jamais gritei
Amar, viver, sem as culpas às quais sempre me dei
E por fim gargalhar alto, louco, de tal liberdade.
E se o meu espírito, tadinho, pedir por caridade
Que eu retorne aos lugares do passado ido
Que eu, humilde, saiba e tenha compreendido
Que o grande monstro nascido da verdade
Nessa tentativa de, de mim mesmo ter fugido
Seja a descoberta que o sofrimento gera a saudade.
Então, ao meu espírito falarei com desenvoltura
Se acalme, seja plácido, seja espírito apenas
Pois o meu eu, mesmo longe, vive hoje lindas cenas
E perdeu com a liberdade, o dom da amargura.


Jesus de Miúdo.
Set/09.

Um comentário:

  1. O fecho do poema ficou show de bola:
    "Então, ao meu espírito falarei com desenvoltura
    Se acalme, seja plácido, seja espírito apenas
    Pois o meu eu, mesmo longe, vive hoje lindas cenas
    E perdeu com a liberdade, o dom da amargura."

    Mas não compreendi bem o porquê do "dom". Você considera a amargura um dom ou foi só ironia? Se for ironia - perdoe a intromissão, Cristo - acho que ficaria melhor o dom entre aspas, para facilitar o entendimento. Parabéns pelo belo poema!!!

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