sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Jessier Quirino devia ter conhecido Aristófanes

Amanhã teremos Jessier Quirino em Natal, nossa capital onde quase todos os moradores são chegados a um cosmopolitismo. Ainda estou inconformado por não poder ir ao show. Dois palavrões que grito só em meu interior me aliviam dessa raiva. Além do mais, tenho memória da primeira vez que ouvi a obra desse sertanejo arretado, campinense da Paraiba. E creiam, eu estava lá na Terra da Garoa, Sampa para uns, São Paulo para outros, congestionamento para vários; e tudo isso é um lugar só, para mim, que por lá fiquei não mais que seis dias, daquela vez.
Quem me apresentou à obra do poeta foi meu conterrâneo Vicentinho, aquele mesmo do PT, outro sertanejo arretado e que ama a cultura de sua terra natal, mesmo tendo encontrado noutros vales o oásis da vida. Pois bem, Vicentinho arregalou os olhos e quase vi seu órgão par da visão saltar caixa fora com esclerótica, coróide e retina, tudo junto, claro e evidente.
- Não conhece ainda Jessier Quirino? - perguntou-me assombrado.
Depois me entregou como presente o CD Agruras da lata d'água, que ouvi nem sei quantas vezes ainda na Terra dos Viadutos (essa é só minha), principalmente a faixa Paisagem do interior. A saudade era tanta da minha terrinha onde pouco chove, que já é abreviada por natureza, que nem tem nome de santo, onde a única coisa que detêm o trânsito é um cachorro enganchado numa cadelinha sem vergonha; terra que só possui algumas pontes e uns tantos pontilhões, mais nem sei quantas passagens molhadas.
Aí, do mote da faixa eleita "mata saudades", fiz dois versinhos outro dia. O primeiro me lembrando do velho amigo Aristófanes, caboclo matuto com nome pomposo, mas que nem sabia assinar seu próprio nome; mais para Zé Pelintra, pelo vício que o dominava, do que para filósofo ateniense; trabalhador sem preguiça que foi pego numa noite de lua boa nas traseiras de uma cabra berrante e que, desse dia em diante, passou a abominar o "béééé" gritado pela turma da rua por onde ele passava cambaleante. Aristófanes, aliás, nunca deve ter ouvido sequer algo sobre a guerra do Peloponeso, porém vivia sua própria guerra contra quem lhe insultava, quiçá contra o vício que lhe deixava com um olhar triste. Aristófanes que não escrevia comédias, mas vivia uma vida que era uma comédia; um tipo que se Jessier tivesse conhecido, com certeza estaria contando seus causos até hoje. O mesmo Aristóteles que nem precisou ir conhecer o trânsito louco de São Paulo para morrer atropelado. Bastou ir ali em Parelhas. Que Deus o tenha.
No mesmo verso, a memória me levou às nove horas dos sábados de minha infância.
Já o segundo verso, veio da cabeça mesmo. Não foi uma situação presenciada. Pelo menos não que eu lembre. Se bem que fiquei imaginando certas "solteironas caritós" da minha aldeia dando seus ais. Mas aí, se eu disser o nome de alguma, vou ter que arrastar real para algum advogado.Prefiro economizar para uma próxima vinda de Jessier Quirino a Natal.
Bom, mas eis a minha criação (tão pequena quanto o canivete pra lá de esmerilhado que Aristófanes puxava, ameaçando de longe quem o insultava):
Um bêbado sendo insultado
Na reunião duma esquina
Só de alma masculina
Dizendo-lhe que tá cagado
Um terço todo rezado
Na missa do agricultor
Gente simples no fervor
Pela chuva agradecido
ISSO É CAGADO E CUSPIDO
PAISAGEM DO INTERIOR

Um jumento amarrado
Debaixo duma mangueira
Sem vergonha e sem besteira
Ficando todo ouriçado
Com olhar arregalado
Moça veia e sem pudor
Passando grita de dor
Por aquilo tudo estruído
ISSO É CAGADO E CUSPIDO
PAISAGEM DO INTERIOR.

3 comentários:

  1. É UM BELÍSSIMO MOTE ESSE DE JESSIER. JÁ TINHA VISTO NAS COMUNIDADES DE CORDEL, NO ORKUT, MAS NÃO LEMBRAVA DO AUTOR. SEGUE, ABAIXO, A ENTREVISTA QUE ELE DEU NO JÔ, DIVIDIDA EM TRÊS PARTES, QUE ENCONTREI NO YOUTUBE:
    http://youtube.com/watch?v=-KSGe35PdBQ
    http://www.youtube.com/watch?v=MuQxyPrA2HU&feature=related
    http://www.youtube.com/watch?v=XtMKVHrOCGY&feature=related

    COM A SUA LICENÇA E COM A LICENÇA DE JESSIER, VOU DAR UMA PALHINHA NO MOTE:


    DOIS PATINHOS NA LAGOA
    UM GANCHO DE TIRAR PINHA
    OU AS PERNAS DE ZEFINHA
    ACHO QUE ESSA É A BOA
    DE CAMPINA GRANDE ECOA
    DIZ: O JOGO COMEÇOU
    QUEM SERÁ O GANHADOR?
    DE ROMBO, É PREFERIDO
    ISSO É CAGADO E CUSPIDO
    PAISAGEM DO INTERIOR

    ResponderExcluir
  2. Rapaz, num é que me vi escutando e fui me aprochegando desse sertanejo cagado e cuspido chamado Jessier Quirino. Jesus, eu tenho um DVD dele, vc já assistiu?

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir