sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O meu país

No rastro da música O Meu País do grande Zé Ramalho, poeta e cantador nordestino da melhor qualidade; e também diante do que temos vivenciado na saúde potiguar (vocês entenderão o porquê), resolvi postar uma poesia que fiz num passado recente, cujo título e estilo tento copiar do inimitável Zé.

O meu país
Jesus de Miúdo.

Um país que só vive de novela
Prisioneiro da pior televisão
Um gigante que não tem educação
Quando aprende apenas por uma tela.
Que aumenta sua triste mazela
Vendo o ator ou até a linda atriz
Que aparece na cena tão feliz
E vendendo uma idéia de riqueza
Pode ser o país da boniteza
Mas não é com certeza o meu país.

Um país lá no mundo conhecido
Pelos pés que correm atrás da bola
Mas sem craque que freqüente a escola
Num exemplo fácil de ser seguido
Faz do jovem pobre e bem sofrido
Nas favelas ter sonhos infantis
Quer na bola ter nova diretriz
Nem percebe qu’é de areia esses castelos
Pode ser o país dos gols mais belos
Mas não é com certeza o meu país.

Um país que prega à mocidade
Que são grandes apenas os seus artistas
Desprezando seus sábios cientistas
Que lhe podem trazer prosperidade
Lhe servindo de exemplo e qualidade.
Um país que até hoje pouco quis
Curar esse mal e apagar a cicatriz
Traz seu povo, coitado iludido
Pode ser o país do excluído
Mas não é com certeza o meu país.

Um país que elege analfabeto
E aceita apologia à ignorância
Vai vivendo a grande discrepância
Da família ser apenas objeto
Que se vende por um vale abjeto
Uma ajuda que ao plano contradiz
De ser grande e ter a força motriz
Pra deixar de viver dessa esmola
Pode ser o país da bolsa escola
Mas não é com certeza o meu país.

Um país que abandona seus valores
Ensinando aos seus filhos outra cultura
Se entregando sem nenhuma compostura
Esquecendo os seus mais antigos amores
Desnudando seu folclore sem pudores
Transformando os seus jovens em imbecis
Que se perdem pela vida, sem raiz
Copiando o que o mundo tem de ruim
Pode até promover um Halloween
Mas não é com certeza o meu país.

Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo.

Aí, hoje criei esse aqui, que deixarei em separado dos demais acima:

Um país onde falta um simples leito
Pra o deitar de um cidadão doente
Na saúde o dirigente é bem demente
E o enfermo é tratado sem respeito.
Um país que parece não ter jeito
Onde a maca é para doze, assim se diz
Nos corredores, são mil vidas por um triz
Sem remédio que sare um arranhão
Pode ser o país de um Temporão
Mas não é com certeza o meu país

Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo.

Um comentário:

  1. Meu caro: grato pela visita ao Balaio. Já tinha visto o seu novo espaço. Mande brasa! E o outro, de fotos, continua firme e forte, né? Um abraço.

    ResponderExcluir