sábado, 17 de janeiro de 2009

Aprendendo sobre o jumento

Rapaz, creio que as escolas poderíam trocar certas matérias, por algumas que ensinassem coisas mais interessantes. Por exemplo, não me lembro de ter aprendido nada sobre o jumento, em nenhuma escola por onde passei, nem na faculdade. Parece até piada o cabra querer aprender na escola sobre jumento. Mas é um animal tão formidável, não?
Hoje, depois de ter postado as primeiras letras do meu As memórias do Jumento Solteiro, resolvi voltar a um estudo que fiz, antes de começar a traçar a origem do meu personagem saudosista. E, como esse espaço também não tem nenhum compromisso de ter serventia alguma, leiam se quiser, resolvi postar aqui algumas coisas descobertas, curiosidade pura!
Por exemplo, o Dicionário Aurélio diz assim de "jumento":
[Do lat. jumentu.]S. m. 1. Zool. Animal mamífero perissodáctilo (Equus asinus), facilmente domesticável, muito difundido no mundo, e utilizado desde tempos imemoriais como animal de tração e carga. É ungulado e tem pêlo duro, de coloração extremamente variada, indo do castanho-fulvo ao cinza-escuro. [Sin. pop.: asno, burro, burrico, jerico (q. v.) e (bras.) jegue.] 2. V. burro (8).
Do terceiro significado em diante o dicionário vem com aquela onda que a palavra retrata o indivíduo muito bruto, muito grosseiro, tipo acavalado, ou ainda o indivíduo de grande potência sexual. Mas o doutor Aurélio deixou dito que isso era no tal figurativo.
Eu fico puto da vida quando usam o figurativo para denegrir a imagem do jumento. Nunca vi um jumento bruto, ser grosseiro com ninguém, desinteligente, ou ter de fato o que o nome jumento passou a significar em certos casos. Pelo menos os jumentos que eu conheci até hoje são altamente inteligentes! Pergunte aos seus donos.
Bom, tudo nasce com o asno (Equus asinus), que também é chamado de burro, jumento, ou jegue. Portanto, o asno é um mamífero perissodátilo* de tamanho médio, focinho e orelhas compridas, utilizado desde tempos pré-históricos como animal de carga. Ajudou a construir das Pirâmides do Egito, passando por outras tantas maravilhas, até a Delegacia de Polícia de Acari, quando Bombom e seus jumentos botavam a areia da obra.
Sua origem está ligada a Abissínia**, onde era conhecido como onagro ou burro selvagem.
Também há séculos o cruzamento entre burro e cavalo é feito, do qual resulta um híbrido denominado muar ou mu, com características de ambas as raças: robustez, capacidade de adaptação a caminhos acidentados e a meio ambiente adverso, docilidade; pernas mais longas e, portanto, maior velocidade, maior facilidade de treino. Tais afirmativas só me deixa mais crente no impropério que cometem dando outros significados figurativos à palavra jumento.
O macho, ou mulo, é o indivíduo do sexo masculino resultante do cruzamento de um burro com uma égua, (Equus caballus). Já o animal fêmea resultante do mesmo cruzamento é chamado mula. Entretanto, o cruzamento das mesmas espécies, porém invertidos os sexos (portanto cavalo e jumenta), dá origem a um animal diferente, o bardoto (mais difícil de criar, pois possui a desvantagem de ser menor e de herdar o temperamento birrento da mãe). Estes híbridos são quase sempre estéreis devido ao fato do cavalo possuir 64 cromossomos, enquanto que o jumento possui 62, resultando em 63 cromossomos. São raros os casos em que uma mula tenha parido, com efeito, desde 1527, data em que os casos começaram a ser arquivados, apenas 60 casos foram registrados.
Desde os tempos remotos, o jumento também é simultaneamente utilizado no meio rural para auxiliar nas tarefas agrícolas e para transporte. Foi servindo de transporte, aliás, que dizem ter levado Jesus Cristo em duas passagens bíblicas.
O nome burro veio do latim burrus, que quer dizer vermelho. Ou seja, nada tem a ver com falta de inteligência. E se o latim, diz, tá dito! Mas, como tudo que é bom tem a merda de um mas para atrapalhar, acredita-se que foi justamente daí que surgiu a crença de que os burros são pouco inteligentes, pois, antigamente, os dicionários tinham capas vermelhas, dando a ideia de que os burros eram sedentos de saber. Outra história diz que numa moeda antiga tinha a imagem de um rei com uma cabeça enorme que não era esperto, que se associou com a cabeça resistente do burro. Porém, também pode ter surgido da lenda grega do Rei Midas, que foi tolo ao ponto de contradizer a irrevogável palavra do deus Apolo, sendo castigado depois, recebendo orelhas de burro do dito deus (deus com "d" minúsculo, já diz tudo). Aí, eu começo a acreditar que Apolo não sabia nada sobre os burros, ou era apaixonado por um.
Já o nome jegue veio do inglês Jackass, burro. Jackass foi formado de duas palavras: jack - aqui servindo apenas para indicar o sexo masculino do animal (Jack é apelido de John e serve para designar um homem qualquer); e por ass, burro (Fonte: "A Casa da Mãe Joana" de Reinaldo Pimenta, editora Campus).
Ofensa
Em Portugal, tal como no Brasil, chamar alguém de burro é uma ofensa. Um indivíduo burro é um indivíduo pouco inteligente, estúpido, teimoso, ignorante, com pouco entendimento, sem conhecimento geral, sem criatividade... Imagino se os jumentos pudessem falar a revolta que já não teria existido, por essa inversão de valores.
* Ordem de animais mamíferos, geralmente de grande porte; têm membros alongados, dedos em número ímpar, cada um revestido de um casco córneo, e estômago simples.
** atual Etiópia (África).

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