domingo, 15 de novembro de 2009
Isso é cagado e cuspido paisagem do interior
Na reunião duma esquina
Só de alma masculina
Dizendo-lhe que tá cagado.
Um terço todo rezado
Na missa do agricultor
Gente simples no fervor
Pela chuva agradecido
ISSO É CAGADO E CUSPIDO
PAISAGEM DO INTERIOR
Um jumento amarrado
Debaixo duma mangueira
Sem vergonha e sem besteira
Ficando todo ouriçado.
Com olhar arregalado
Moça véia e sem pudor
Passando grita de dor
Por aquilo tudo estruído
ISSO É CAGADO E CUSPIDO
PAISAGEM DO INTERIOR.
Em homenagem ao grande nordestino e poeta,ator e compositor, matuto de primeira linhagem, Jessier Quirino, que está com livro e cd novos na praça.
domingo, 8 de novembro de 2009
Se eu pudesse encontrar quem mais amei
Expressando no olhar enorme tristeza
Perguntei-lhe o porquê, queri'a certeza,
Do que lhe deixava assim tão acanhado.
Respondeu-me: papai, tô abalado,
Minha amada partiu, não vem mais, não!
Agarrado aqui ao meu violão
Assobio baixinho o que alto cantei
Se eu pudesse encontrar quem mais amei
Livraria da dor meu coração.
Parte do poema cujo título segue acima.
Jesus de Miúdo.
(Março de 2008)
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Viagem ao nada
Me afasto de mim e de meus sentimentos
Quero a solidão, estática sem impedimentos
Para entender, por fim, quem realmente sou.
Ultrapasso as barreiras de onde eu estou
Indo além de um lugar que eu não sei ao certo
Se é paraíso, inferno, jardim de flores, ou deserto
Augurando descobrir, sozinho, o que me fará feliz
E o meu espírito, tadinho, chega e me diz:
- Se afaste de tudo, mas fique aqui por perto.
Eu viajo sem saber direito, mas quero o céu aberto
Com estrelas que iluminem o ir a esse meu exílio
Servindo de guias nessa busca por novo domicílio
Onde a minha alma descansará com amor, decerto
E o meu eu seja por fim, por mim, assim, descoberto
Quero um lugar onde eu não tenha mais dificuldade
De expressar-me, ser compreendido, em minha castidade
Quero gritar coisas que jamais gritei
Amar, viver, sem as culpas às quais sempre me dei
E por fim gargalhar alto, louco, de tal liberdade.
E se o meu espírito, tadinho, pedir por caridade
Que eu retorne aos lugares do passado ido
Que eu, humilde, saiba e tenha compreendido
Que o grande monstro nascido da verdade
Nessa tentativa de, de mim mesmo ter fugido
Seja a descoberta que o sofrimento gera a saudade.
Então, ao meu espírito falarei com desenvoltura
Se acalme, seja plácido, seja espírito apenas
Pois o meu eu, mesmo longe, vive hoje lindas cenas
E perdeu com a liberdade, o dom da amargura.
Jesus de Miúdo.
Set/09.
Rio e mar. Mar e rio...
(Escrito no sábado 24 de outubro, à noite, em homenagem à Professora Ana Lúcia Sampaio)
Hoje à tarde tomei rumos há muito não procurados. Confesso que saí de casa meio sem ermo, andando para ficar só. Desci pela rua principal retribuindo o carinho das pessoas que me cumprimentavam com palavras rápidas ou, simplesmente, com gestos em acenos de cabeça ou de mãos. Alguns polegares para cima, outras vezes dois dedos em foram de “V”.
Quando alguém tentou me acompanhar e puxar conversa, não fui grosso. Mas procurei ir por onde ele não ia, seguindo meu desejado passeio solitário, sentindo o calor de trinta e seis graus, o sol queimando meu rosto, o vento quente soprando e assanhando meus cabelos... literalmente sem lenço e sem documento algum.
De repente estava sobre a ponte que separa nossa pequena cidade, Norte numa cabeceira, Sul na outra, Rio Acauã passando por baixo dos meus pés firmes sobre o concreto da construção há vinte e seis anos inaugurada.
Desci pela cabeceira sul e me vi sobre a areia fina da margem do dito rio. Tirei as sandálias, arregacei as pernas da calça jean’s, desbotada pelos anos, tecido macio, fino por tantas lavagens sofridas, pondo-as um pouco abaixo dos joelhos. Caminhei por aquele ponto onde a água beija de leve a areia, mal cobrindo meu pé direito, mais na areia que na água, entretanto engolindo meu pé esquerdo sempre que esse tocava o chão. Caminhei ao contrário das águas.
Fui sentar-me numa pedra, à sombra de uma Ingazeira, a mesma pedra de onde, quando ainda um menino teimoso e desobediente, às vezes, não considerando as advertências maternas, dela me atirava num mergulho para sair lá embaixo, correnteza me levando como um peixe que não tem piracema para motivá-lo em lutar contra o fluxo da enchente.
Sentado ali me lembrei de tantas coisas passadas... e os anos foram sendo exibidos na tela das minhas lembranças, retornando cenas em memórias que se eu pudesse reviveria todos os dias. De repente, não tinha mais do que me lembrar. Cheguei ao hoje.
Olhei rio acima, até onde a minha vista podia alcançar. Rio torto, pedras em seu caminho, contornadas sem nenhuma força. Tantas pedras... vencidas pelo rio tão maravilhosamente caudaloso.
Lá longe a serra ainda se veste de mata verde pelas chuvas que esse ano foram benfazejas. Percebi que tudo ainda está verde. Tudo verde... que verde! Que serra! Grande, majestosa! Nem por isso venceu a teimosia das águas e, em certo ponto, se fez garganta para que o rio pudesse passar, se fez espécie de cânion para a passagem das águas.
“Rio torto”, pensei. Como são todos os rios.
Deitei-me na pedra, fechei meus olhos. Lá às minhas costas o sol começava a baixar, perdendo a força, o brilho se tornando avermelhado, já não refletido em nenhum ponto nas águas do rio. Não daquele lugar em que eu estava.
Confesso que certas glândulas me turvariam os olhos, se abertos estivessem, quando senti rolarem duas aguinhas impertinentes e que logo viraram quatro. Se mais tempo ali permanecesse, tenho certeza, o rio aumentaria um pouquinho em seu volume.
Me pus de pé sobre a pedra. Tirei minha camiseta, joguei-a de qualquer jeito sobre as sandálias, mirei as águas do velho Acauã, juntei meus pés, tomei fôlego e pulei.
Após o mergulho, me deixei levar um pouco pela correnteza para, só depois, procurar a margem de terra firme. Saí alguns metros à frente. Por um momento me vi menino novamente, não fosse pela calça jean’s substituindo o calçãozinho de tecido barato que eu usava quando mais novo.
Novamente sobre a pedra, percebi a água que escorria de mim, lambia a rocha e se juntava ás outras águas rio abaixo, levando por certo algum pingo salgado que rolara da minha face.
“Esse rio vai dar no mar”, pensei. Como vão todos os rios. E aí, lá no mar transformar-se-á em nuvem novamente, nuvem em chuva, chuva em água, água na terra, da terra para o rio e do rio para o mar! Rio e mar. Mar humilde, vivendo abaixo do rio apenas para recebê-lo. Mar. Rio. Rio e mar... um ciclo perfeito e tudo tem o seu recomeço. A ida, a volta, para a ida, à volta, a ida...
Confesso que eu agora creio em recomeço. Há, sim, muitos rios e vários mares, alguns oceanos; todos feitos rios, todos feitos mares. Porém, hoje descobri que é possível recomeçar.
Sempre é!
E a citação que hoje me inspira é: “Todo caminho tem... tem ida e volta”.
domingo, 17 de maio de 2009
Pôrra-Louca
Morder com as mãos
Abraçar com a boca...
Isso não é paixão?
- Que merda é essa? - perguntou o gari que passava varrendo a rua, todos os dias, assustado com o que acabara de ouvir na voz feminina do jovem alto.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Por tudo que for - plágio em prosa de Lobão
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Silêncio
terça-feira, 21 de abril de 2009
Ética
Entretanto, um outro debate também chamará a atenção para uma discussão sobre a conduta humana, ou seja, em sociedades pluralistas como as atuais, onde o capitalismo e a democracia há muito se fortaleceram e se expandiram pelo mundo, estando para muitos a corrupção como o maior obstáculo para a felicidade racional das pessoas, sendo, assim, comum que se encontrem pontos de dissenso acerca de questões éticas.
Não há como negar que Agostinho, o de Hipona, foi o maior filósofo da época patrística, tempo em que as evidências e compreensão das coisas estavam intrinsecamente ligadas às teorias dos Santos Padres, além do mais importante e influente teólogo da Igreja em geral.
Portanto, é imprescindível uma análise sobre os pontos de vistas e opiniões do referido autor.
sexta-feira, 10 de abril de 2009
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Estorinha boa de contar da porra, hômi!
Mosaico
Nem vou juntar os passos que eu não dei
Nego-me a cantar aquilo que jamais li
E rio do riso rídiculo que não espalhei
Mas juro que por algo, ou nada, lutarei
Que morrerei feito o herói que não vivi
E, enfim, para o tudo dos dias nada serei
Só assim voltarei a viver longe de mim.
sábado, 28 de março de 2009
Fortes?

Lutando contra a morte, apegadas à terra
Soltando suas folhas sem, talvez, contentamento
Deixando escapar, assim, a beleza que encerra.
Vi o vento que soprava com intrepidez
Sem poder ser detido em suas livres veredas
Atentando contra uma árvore pra tirá-la de vez,
Do solo, em silvos longos entre as alamedas.
Um homem que passava segurou seu chapéu
Olhou para a árvore e se compadeceu
Pois compreendeu que debaixo do céu
Só não se curva ao mais forte aquele que morreu.
Mas até o vento que ninguém sabe de onde vem
Embora forte e ágil sem ter que dar satisfação
Chega uma hora que se cansa também
E deixa tudo que levantou cair de novo ao chão.
sexta-feira, 27 de março de 2009
Descobertas
Ciranda
domingo, 22 de março de 2009
Morrer em ti
Maria da Penha nele, e uma surra nela!

Também tem um tipo ruim
De mulher, que faz assim:
Apanha e fica quietinha.
Mas se faz de coitadinha
Diz que foi escorregão
Que sofreu em seu sabão
Quando saía apressada
Do banheiro, ensaboada,
Por não prestar atenção.
Agora é essa a questão:
Apanha ou é desatenta?
Ela diz que o povo inventa
Qu’ela leva moxicão
Mas acho que é a mão
Do marido cachaceiro
Profissional uisqueiro,
Que lhe faz só de pamonha
E ela, muito sem vergonha,
Diz: - É bom, meu companheiro.
O cabra é um loroteiro
Metido a arroxado
Mas quando ele é provado
Por um homem verdadeiro
Falam que corre primeiro
Pra descontar na inocente
Que embora inteligente
Não vê qu’ele é um imbecil
E toda quebrada e servil,
Diz: - O meu homem é decente.
Quando a coisa fica quente
Ela liga pr’uma amiga
É sempre a mesma cantiga
- Eu sofri um acidente.
Mas por inveja, não invente
De pensar que apanhei.
Eu apenas escorreguei
Quando saía do banheiro,
Caí com meu corpo inteiro
E a cabeça quebrei.
Temos de tudo um pouco
Podem até me chamar: “louco”
Mas não tenho outra saída.
Aqui a gente duvida
De metido a valentão
Mas que só levanta a mão
Pra bater no feminino
Não passa de um cretino
Sem alma e sem coração.
De que adianta o sujeito
Ter “nome” e tradição
E faltar-lhe a educação,
Ser sem caráter e respeito?
Falo logo em meu conceito:
“O cabra não é do bem.”
E não importa quant'ele tem
Pode ser um mar de dinheiro
Pode até ser um “Carneiro”,
Mas pra mim, não é ninguém.
Não vejo porque senão
Nessa linhas que hoje leio
Nem me traz um aperreio
Entrar em tal discussão
Eu falo de coração
E não arredo o pé
Aqui quem bate em mulher
Não é homem, é um nojento !
Não é sequer um jumento
Pois não rincha, só faz béééééééééééééé !
sábado, 21 de março de 2009
Se foi Maria...
A vi subindo a ladeira, outro dia,
Puxando um menino, pegada na mão.
Maria, cadê você, cadê Maria?
A vi sumindo faceira, cheia de alegria
Puxando um gringo, pegada na mão.
Maria, cadê você, cadê Maria?
A vi partindo aventureira, sem euforia,
Puxando a saudade pr'o meu coração.
Se foi Maria...
Escrito para ninguém, dentro de um ônibus em movimento, numa manhã bucolicamente cinza de segunda-feira.
quarta-feira, 18 de março de 2009
Misturas
Sou metade de mim? Não sei.
Tudo que sei é que sou pingo
Juntando-me ao teu suor
Descendo por tua pele nua
Lambendo tua carne crua
Para cair no solo em que tu pisas.
Sou de ti esquecido e nunca lembrado
Mas roubo de ti o sal pra terra
Onde morro e por quem sou tragado
E na qual minha paixão encerra.
Escrito para ninguém, numa tarde quente de outubro qualquer.
domingo, 1 de março de 2009
O que é que me falta fazer mais...
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
"Ser ou não ser. Eis a questão".
Quantas dissertações poderiam ser escritas apenas sobre o conteúdo metafórico por trás dessa frase de apenas sete palavras? Quantas já não foram escritas?
O homem desde a escolha natural para ser o único animal pensante, vive o eterno paradoxo de ter que tomar as suas decisões escolhendo uma alternativa, em detrimento a outra, ou outras. É a luta da tomada de decisão presente em cada planejamento, ou escolha, quando esses terão que ser transformados em ação. Vivemos sempre sob a pressão das nossas preferências.
Biblicamente isso começou ainda com Adão. Ser fiel ao Deus que lhe criou, ou ser crente de que seria como o próprio Criador, conforme a serpente havia dito à sua adjutora?
E seguem as incertezas nas escolhas da alma, supostamente de lá para cá. Ser do bem, ou servir ao que chamam de mau? Ser corajoso, ou acovardar-se ante o perigo eminente? Ser educado, ou se fazer bruto? Ser honesto, ou participar dos acordos que facilitam a escalada social para um melhor status e posto? Quantas dúvidas pairam sobre as nossas cabeças quando temos que tomar alguma decisão!
Talvez o personagem estivesse em meio da sua mais cruel indagação e na procura pela resposta para agir sem nenhum contra-senso: Ser piedoso e perdoar o assassino, ou justiceiro e vingar a morte do pai? Não se nota a aflição em sua divagação? Eis a questão e o paradoxo do jovem Hamlet, em busca de sua asserção para fazer prevalecer a justiça do bem através do perdão tido como nobre, ou do mau pela vingança e que definharia, de certa forma, a sua virtude.
O autor põe nas palavras do personagem a monstruosa verdade que desnuda a alma humana em seus temores, e o faz pronunciar uma frase que pode representar, muito bem, toda a hesitação do gênero tido como inteligente.
Mas me questiono lendo a frase sobre o porquê alguém deve ser fiel aos dogmas arcaicos, alicerçados em verdades nunca comprovadas e leis que se mostram falíveis, quando o desejo de ser apenas o eu próprio de cada um quer prevalecer sobre o juízo delével e tido como o certo? Cimentado em qual fé, teria Shakespeare feito tal indagação através de Hamlet? Porque eu compreendo que as experiências do homem, em seu primeiro estado pós primitivo, acerca do que considerava como útil ou prejudicial, estava intrinsecamente ligadas à sua moralidade, ou seja, aos seus costumes (basicamente aos religiosos). Quero dizer, ao que ele acreditava ser santo, divino e inerente às deidades nas quais acreditava. Talvez repouse aí o porquê de tantas dúvidas, sobretudo no tocante as decisões que o homem deve tomar, pois creio que a moralidade em sua gênese embrutece, a priori. É como se o instinto, de vingança, por exemplo, tenha se tornado um sentimento complicado de falta de coragem, sob a ótica que os medos herdados da moralidade (leia-se costumes) fizeram estacionar sobre o homem de Shakespeare naquele instante. É como se esse fator inato do comportamento dos animais, sendo o homem apenas mais um na natureza, esteja sempre sendo julgado como bom ou má.
Algumas formas de pensar Deus acabaram fechando o que chamam de Livre Arbítrio em seu próprio favor. Como? Quando levam o homem a acreditar que a dúvida (ser ou não ser), faz nascer um pecado por si só. É como se o correto fosse lançarmos a fé sem o auxílio da razão, sem a intromissão do instinto, como se por uma intervenção do elemento que para elas, essas formas que pensam deus, é divino e extraordinário, tudo fosse resolvido ou dele nascesse todas as questões. Fomentam a falta de conhecimento e a embriaguez da fé para o alto, enquanto jogam a razão e a sabedoria num lamaçal tido como horripilante, degenerante do bem e onde não há perdão.
Não estou aqui fazendo apologia à vingança, apenas tentando mostrar meu ponto de vista para as constantes vezes em que nos deparamos com as contradições existentes em decisões, ou suas, às vezes, infinitas variantes.
A dúvida do personagem, assim como todas as nossas, parece cair no calabouço de mais uma dúvida: não sei exatamente o que faço agora. Não sei exatamente como devo fazer! Eis a questão. A quem deverei ser fiel?
Portanto, esse é o meu pensamento. Não sei se me fiz entender. Mas, para terminar, cito a famosa frase de Lutero: "este é meu conceito e outro não posso ter" (“Hier stehe ich, ich, kann nicht anders”).
Rudes Brasões
Meu avô imprimiu no couro vivo
de um boi brabo seu rústico brasão,
inflamada divisa do sertão,
que passou ao meu pai, qual aos meus tios.
A caatinga o forjou e deu brilho;
as veredas do tempo, as diferenças:
ao de um neto, um puxete e essa pequena
flor na ponta que de outros o separa
quando, aos berros do gado, se declaram
ferro e fogo das marcas avoengas.
Pois das eras salvou-se uma relíquia:
um chocalho amarelo e meio tosco,
que por anos batia no pescoço
de uma vaca de nome Colombina.
Hoje dobra, dorida, às tão tranqüilas
solidões da fazenda em que tocou.
No metal do seu corpo se engastou,
posta ali a punção, armorial,
uma marca indelével, o ancestral
e incendido brasão do meu avô.
ACM - O avô
- "A Presidência da República é destino. Você pode fazer a sua carreira política, a Presidência é destino."
- "Eu raramente digo palavrões e chego a corar quando mulheres os pronunciam em minha presença."
- "O governador que vigiar a família tem 80 por cento de chance de evitar a corrupção."
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Êita, pau!
Márcia servia o café da manhã ao marido, logo no segundo dia no novo lar, quando se deteve por alguns segundos e, parada, observava algo pela janela. O marido percebeu a distração da esposa e perguntou-lhe o que olhava.
- Vejo que há uma mulher estendendo alguns lençóis no varal – falou apontando a cena com a faca cheia de manteiga que iria no pão. - Mas como são sujos aqueles lençóis! Talvez ela não tenha sabão para lavá-los. Eu poderia dar algum pedaço para ela.
Paulo se pôs de pé, sem sair do lugar, e espiou lá fora. Viu que uma mulher estendia lençóis num varal, mas ficou calado.
Passados três dias a cena se repetiu. Márcia colocava a mesa para o café do marido, quando parou de repente e observou novamente a vizinha de trás, que estendia os lençóis como da vez anterior.
- Talvez ela não saiba lavar lençóis – falou sem esperar nenhum comentário do esposo. - Eu bem que poderia ensinar-lhe. Veja só que lençóis sujos!
Como Paulo saía religiosamente na mesma hora para o trabalho, o horário de acordar dos jovens era sempre o mesmo. E assim, a cada três dias, Paulo ouvia da esposa os mesmos comentários sobre a vizinha, que também era muito pontual na tarefa de lavar seus lençóis.
Certa vez, passadas algumas dezenas de dias, Paulo já estava sentado quando Márcia parou e olhou para fora. Eufórica chamou pela atenção do marido.
- Veja, Paulo. Que lençóis mais limpos! Aposto como uma outra vizinha deu-lhe um pedaço de sabão - falou pondo o leite na xícara do esposo. - Ou então, ensinou-lhe como se lava lençóis. Porque eu não fui!
- Não, minha querida. É que hoje levantei mais cedo e lavei as vidraças de nossas janelas.
Escrito em abril de 2003. Texto desenvolvido a partir de um e-mail com ilustrações, enviado por um amigo, no qual alertava contra vermos os defeitos dos outros através das nossas falhas.
domingo, 25 de janeiro de 2009
Talvez um texto sem muito sentido

Há aqueles, entretanto, visionários, sonhadores, que dizem que os dias novos estão porvir, que a salvação cavalga cavalo alado e se apressa a descer de cima, rumo a essa terra de pecados e sonhos. Afinal, não há como sonhar sem que se peque, infelizmente. Mas convenhamos o mundo mudou e parou no tempo. Muda e pára todos os dias, várias vezes por dia, milhares e milhares por semana, milhões e bilhões de vezes a cada ano. Muda na mente de cada um, pára nas ações de cada ser. E o homem segue sua epopéia diária, minuto a minuto, sonhando, se esfacelando e sem poder reclamar que não tem chances de mudança, ou de crescimento. O medo inibiu o avanço do homem. Suas crenças, por vezes, aprisionaram-no. Ou melhor, o medo inibe as conquistas da humanidade.
Veja hoje mesmo, quantas bilhões de mudanças não ocorreram? Dizem que o cavaleiro e seu cavalo de asas está descendo, vem logo. Não vi em lugar algum a confirmação de tais eventos extraordinários. Os jornais continuam com as mesmas notícias de sempre sobre crimes, corrupção, conluios, guerras, terremotos, forças naturais agindo... A TV copia, a rádio anuncia. Mas... Elementos nocivos ao desenvolvimento da paz dirão que as novas, na verdade, são velhas. Velhos escritos em profecias sobre o tempo da grande e verdadeira mudança, oferecendo àqueles que acreditam em tais preceitos que serão como deuses, eternos e intocáveis pela ação do tempo.
No entanto, a vida continua igual, alguém sairá de casa amanhã, no primeiro dia da semana, possivelmente beijará sua esposa e a chamará de querida, cheio de esperança e será demitido assim que chegue ao emprego. Chorará e desejará matar o seu chefe? Outro aproveitará o fato de ser uma segunda-feira e abandonará a família, indo morar com uma mulher conhecida numa parada de ônibus, cheia de fumaça do churrasquinho montado ao lado. Desejará encontrar com a nova dama, a felicidade que há muito o deixou ao lado da outra? Quem sabe outro não ficará dormindo o dia todo, pois aproveitou o domingo para tomar todas? Desejará que a Terra pare, como cantou Raul Seixas.
A verdade é que não há dia, não há lugar para os demitidos, para os adúlteros, se sentirem tristes uns e libertos os outros. Quantos serão atropelados, quantos se tornarão homicidas, quantos morrerão, quantos serão punidos e quantos sequer serão descobertos? Os mais fracos dirão que tudo ocorre por uma vontade superior, esquecendo que há um livre arbítrio e que a sua vontade, se for livre, não poderá sempre ser a vontade de quem dizem ser o dono de todas as vontades. Outros protestarão e dirão, em sua defesa, que não se move uma folha sem consentimento de uma força. Assumem com certas declarações que são robôs humanóides, ou atores, manipulados pela vontade de algo. Se atores forem, quantos são os protagonistas?
De repente o que vale, a verdadeira mudança é você encorajar-se e lutar por aquilo que deseja, que sonhou há tempos idos, sem importar-se com o sentimento de ambição que alguém possa dizer que você possui. Ambição sem egoísmo não é pecado, é um simples sonho, um querer algo para você, sem necessariamente ter que tomá-lo de alguém.
Ah! Mas nessa sociedade ocidental, de tantos dogmas arcaicos enraizados nas estórias escritas há bem mais de oito mil anos, querer possuir, sonhar e conquistar é pecado. Porque, infelizmente nos ensinam que sonhar é pecado.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
O meu país
O meu país
Jesus de Miúdo.
Um país que só vive de novela
Prisioneiro da pior televisão
Um gigante que não tem educação
Quando aprende apenas por uma tela.
Que aumenta sua triste mazela
Vendo o ator ou até a linda atriz
Que aparece na cena tão feliz
E vendendo uma idéia de riqueza
Pode ser o país da boniteza
Mas não é com certeza o meu país.
Um país lá no mundo conhecido
Pelos pés que correm atrás da bola
Mas sem craque que freqüente a escola
Num exemplo fácil de ser seguido
Faz do jovem pobre e bem sofrido
Nas favelas ter sonhos infantis
Quer na bola ter nova diretriz
Nem percebe qu’é de areia esses castelos
Pode ser o país dos gols mais belos
Mas não é com certeza o meu país.
Um país que prega à mocidade
Que são grandes apenas os seus artistas
Desprezando seus sábios cientistas
Que lhe podem trazer prosperidade
Lhe servindo de exemplo e qualidade.
Um país que até hoje pouco quis
Curar esse mal e apagar a cicatriz
Traz seu povo, coitado iludido
Pode ser o país do excluído
Mas não é com certeza o meu país.
Um país que elege analfabeto
E aceita apologia à ignorância
Vai vivendo a grande discrepância
Da família ser apenas objeto
Que se vende por um vale abjeto
Uma ajuda que ao plano contradiz
De ser grande e ter a força motriz
Pra deixar de viver dessa esmola
Pode ser o país da bolsa escola
Mas não é com certeza o meu país.
Um país que abandona seus valores
Ensinando aos seus filhos outra cultura
Se entregando sem nenhuma compostura
Esquecendo os seus mais antigos amores
Desnudando seu folclore sem pudores
Transformando os seus jovens em imbecis
Que se perdem pela vida, sem raiz
Copiando o que o mundo tem de ruim
Pode até promover um Halloween
Mas não é com certeza o meu país.
Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo.
Aí, hoje criei esse aqui, que deixarei em separado dos demais acima:
Um país onde falta um simples leito
Pra o deitar de um cidadão doente
Na saúde o dirigente é bem demente
E o enfermo é tratado sem respeito.
Um país que parece não ter jeito
Onde a maca é para doze, assim se diz
Nos corredores, são mil vidas por um triz
Sem remédio que sare um arranhão
Pode ser o país de um Temporão
Mas não é com certeza o meu país
Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
De conversa no ônibus
O da minha direita levava na cabeça um boné daqueles de aposentado, que se achata na frente, preso por um botão, branco, mas encardido e bastante roto na parte de trás, trajava uma camiseta sem mangas, mostrando uma cor que há muito tempo atrás deve ter sido uma amarelo tipo losango da bandeira nacional.
O outro senhor, aparentando ser mais velho, tinha a cabeça totalmente careca, cheia de manchas sardentas, pele largando aqui e ali, como se tivesse tomado muito sol. Usava uma camiseta branca com o nome Bradesco pintado na frente e nas costas.
- Zé, eu tava pensando aqui, o brasileiro é um filha da puta mesmo, sabia?
Bom, o dever me chamou, conto outra hora. Fui!
Perguntar não adoece ninguém
É doido!
Hômi, por aqui tá mais difícil de se achar um médico, do que o Tesouro de Bresa.
Já estão até dizendo que a "professora" vai fazer curso de enfermagem.
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
domingo, 18 de janeiro de 2009
Enquanto isso, na sala do hospital maternidade
DEPOIS DELE EMBRIAGADO
FIZERAM DELE VIADO
ACHO QU’ ELE TOMOU A LIÇÃO
POIS ACORDOU DE ROUPA NA MÃO
TODO CAGADO, SENTADO NO TRONO
E NO MAIS COMPLETO ABANDONO
COM AS PARTES DE BAIXO ARDENDO
QUE TODOS FIQUEM SABENDO
... de um povo masoquista.
Sonhei que estava em terras estranhas
Escrevi isso numa tarde quente de agosto de 2004. Lembro como se tivesse acabado de escrever, ou se ainda estivesse criando, como as letras íam saltando de minha mente para o teclado do computador.
PS.: Qualquer falta de tempo, acessem http://www.protexto.com.br/autor.php?cod_autor=35
E já dizia Tostoi:
Esse também sabia das coisas.
Já cantava o poeta Geraldo Amâncio
A ciência alcança progressos em soma.
Na grande pesquisa que fez o genoma,
Todo o corpo humano já foi mapeado.
No mapeamento foi tudo contado:
Oitenta mil genes se pode contar.
A ciência faz chover e faz molhar,
Faz clone de ovelha, faz cópia completa
Duvido a ciência fazer um poeta
Cantando galope na beira do mar.
E já dizia um tal de Albert Einstein:
"A ciência sem a religião é paralítica; a religião sem a ciência é cega."
Ô povo pra dizer coisa certa...
O Tesouro de Bresa
Conta-se que houve, outrora, na Babilônia - a famosa cidade dos Jardins Suspensos - um pobre e modesto Alfaiate, chamado Enedim. Homem inteligente e trabalhador, que, por suas boas qualidades e amor no coração, era muito querido no bairro em que morava. Enedim passava o dia inteiro, de manhã à noite, cortando, costurando e preparando as roupas de seus numerosos fregueses, e, embora, muito pobre, não perdia a esperança de vir a ser muito rico, senhor de muitos Palácios e grandes tesouros.
sábado, 17 de janeiro de 2009
Aprendendo sobre o jumento
Desde os tempos remotos, o jumento também é simultaneamente utilizado no meio rural para auxiliar nas tarefas agrícolas e para transporte. Foi servindo de transporte, aliás, que dizem ter levado Jesus Cristo em duas passagens bíblicas.
O nome burro veio do latim burrus, que quer dizer vermelho. Ou seja, nada tem a ver com falta de inteligência. E se o latim, diz, tá dito! Mas, como tudo que é bom tem a merda de um mas para atrapalhar, acredita-se que foi justamente daí que surgiu a crença de que os burros são pouco inteligentes, pois, antigamente, os dicionários tinham capas vermelhas, dando a ideia de que os burros eram sedentos de saber. Outra história diz que numa moeda antiga tinha a imagem de um rei com uma cabeça enorme que não era esperto, que se associou com a cabeça resistente do burro. Porém, também pode ter surgido da lenda grega do Rei Midas, que foi tolo ao ponto de contradizer a irrevogável palavra do deus Apolo, sendo castigado depois, recebendo orelhas de burro do dito deus (deus com "d" minúsculo, já diz tudo). Aí, eu começo a acreditar que Apolo não sabia nada sobre os burros, ou era apaixonado por um.
Já o nome jegue veio do inglês Jackass, burro. Jackass foi formado de duas palavras: jack - aqui servindo apenas para indicar o sexo masculino do animal (Jack é apelido de John e serve para designar um homem qualquer); e por ass, burro (Fonte: "A Casa da Mãe Joana" de Reinaldo Pimenta, editora Campus).
Ofensa
Em Portugal, tal como no Brasil, chamar alguém de burro é uma ofensa. Um indivíduo burro é um indivíduo pouco inteligente, estúpido, teimoso, ignorante, com pouco entendimento, sem conhecimento geral, sem criatividade... Imagino se os jumentos pudessem falar a revolta que já não teria existido, por essa inversão de valores.
Jumento Solteiro
Num dos quartos uma mulher gritava com dores de parto. Seu marido mandava-lhe calar a boca e botar a criança para fora logo. A parteira, desesperada pela dificuldade do parto, dividia-se entre a operação e impropérios jogados contra o homem.
- Ora! Cala a boca tu também, Chica da Luz. Tu num vê que tudo isso é manha dessa desafortunada?
- Coroné, ou o inhô cala essa sua boca, ou eu mesma calo, lhe intupindo com esse pano aqui, ó! – e mostrou levantando ao alto o pedaço de tecido que usava para enxugar o suor da mulher que estava parindo.
Aos poucos a parturiente ia perdendo as forças. Já não gritava mais. A parteira levantou-se e chamou o marido para uma conversa.
- Coroné, num posso mais fazê nada. Aja logo, hômi de Deus! Invés de ficar aí feito tonto, manda Zé Buchada ir na rua, prumode trazê Dr. Lupinha.
Mesmo assim o homem foi até a porta da casa e abriu a parte de cima. Gritou por um nome diversas vezes. Então, entrou em casa e pegou uma espingarda, foi até o final do alpendre e deu um tiro. Logo se viu de frente a outro homem completamente molhado.
- Zé, pegue o Jeep, corra na rua e traga Dr. Lupinha aqui. Rápido, fio de uma égua – bradou com o empregado, empurrando-o pelas costas molhadas.
No curral feito de pedras sobre outras pedras, na lateral da casa, lutava para nascer também um filhote de jumenta.
Esse pedaço de texto acima, em azul para melhor destaque, faz parte de um projeto meu, cujo título é: As memórias do Jumento Solteiro. Coisa que nasceu desse meu quengo ávido por estórias engraçadas dos matutos que conheço, ou daqueles de quem só ouvi falar. Uma ficção para variar, em homenagem, também, ao jumento. Afinal, segundo alguns, aliás, segundo o Velho Lula, cabra que geralmente tinha razão, o jumento é nosso irmão.
O Jumento é nosso Irmão
autores: Luíz Gonzaga e José Clementino
É verdade, meu senhor
Essa estória do sertão
Padre Vieira falou
Que o jumento é nosso irmão
A vida desse animal
Padre Vieira escreveu
Mas na pia batismal
Ninguém sabe o nome seu
Bagre, Bó, Rodó ou Jegue
Baba, Ureche ou Oropeu
Andaluz ou Marca-hora
Breguedé ou Azulão
Alicate de Embau
Inspetor de Quarteirão
Tudo isso, minha gente
É o jumento, nosso irmão
Até pr'anunciar a hora
Seu relincho tem valor
Sertanejo fica alerta
O dandão nuca falhou
Levanta com hora e vamo
O jumento já rinchou
Bom, bom, bom
Ele tem tantas virtudes
Ninguém pode carcular
Conduzindo um ceguinho
Porta em porta a mendigar
O pobre vê, no jubaio
Um irmão pra lhe ajudar
Bom, bom, bom
E na fuga para o Egito
Quando o julgo anunciou
O jegue foi o transporte
Que levou nosso Senhor
Vosmicê fique sabendo
Que o jumento tem valor
Agora, meu patriota
Em nome do meu sertão
Acompanhe o seu vigário
Nessa terna gratidão
Receba nossa homenagem
Ao jumento, nosso irmão.